
No post anterior, escrevi que o cérebro em uma gaiola é uma mente confinada a um sistema comportamental de padrões repetitivos, mesmo aqueles que não são benéficos para o ser. Os padrões de raiva, por exemplo, são acionados por sinais que revivem eventos traumáticos – o mesmo com outros padrões, como medo, tristeza e assim por diante. Um ‘sistema comportamental’ significa ajustar o incompreensível (de acordo com os padrões aplicados na ciência moderna) ao previsível. Psicólogos como Skinner defendiam isso, mas nomes como John Watson propunham o behaviorismo desde o início do século XX. No entanto, compreende-se que o pai do behaviorismo foi o médico e filósofo francês Julien Offray de La Mettrie.
Ele, que no início do Iluminismo, defendeu o conceito de ‘Homem-Máquina’ mesclando influências de Descartes e Spinoza. Sua proposta indicava que o cérebro e os fluidos presentes em todo o corpo também influenciam no processo de tomada de decisão. Pode parecer piada, mas parte do ‘raciocínio’, na perspectiva do homem-máquina, também se dá no estômago.
É claro que, dentro do processo histórico da França do século XVIII, entender que certos seres humanos são escravos de seus sentidos corporais por necessidade ou apego, compôs a alegoria do desprezo tanto às classes mais baixas quanto à nobreza. Fato é que o conceito do homem como máquina é aquele que é facilmente manipulável.
Portanto, o ‘cérebro em uma gaiola’ é o corpo inteiro em uma gaiola. Um corpo que perde a liberdade de expressão e adoece provavelmente por falta de autoconsciência.
O cérebro que está constantemente preocupado é um cérebro em um corpo que bloqueia movimentos sutis e naturais. O cérebro que explode de raiva é uma cabeça em um corpo aprisionado. Corpos condicionados por abusos mentais são corpos que sofrem preconceito, subestimação, injustiça. Muitas coisas podem quebrar os padrões negativos na mente, como meditação, expressão de empatia (solidariedade) e ser criativo. A criatividade que permite externalizar a imaginação aumenta o autogoverno, que gera autorrecompensa. O sucesso de realizar o que foi imaginado, como escrever este texto, desenhar e pintar o esquema da imagem neste post são fatores que geram auto-recompensa.
Quando se produz no mundo simbolico, até mesmo a escolha das cores e o fato de que o topo da ‘cabeça’ (na imagem acima) sugere um estado não-sólido capaz de transbordar fronteiras. A satizfação do “dever cumprido”, ocorre pois de modo sutil e simbólico a imagem é capaz de comunicar a complexidade do conceito assim como os desafios do estudo sobre os funcionamentos da mente. A questão é como os processos bioquímicos do corpo são influenciados por tais recompensas pessoais, impactando positivamente a mente e a boa saúde. Por sua vez, a maneira como o corpo e a mente são afetados pela rigidez e pelo policiamento em práticas como o behaviorismo se espalha pelas formas como a ciência e as instituições operam, bem como os sistemas computacionais. Assim, é preciso pensar que o compromisso do cuidado com a saúde é também rever como as instituições funcionam dentro de sistemas de autoridade vazia, que são guerras microfísicas pela manutenção de um poder que não está a serviço do bem-estar da maioria. Comecemos pois com a epistemologia.