Em busca de novos horizontes para uma alma machucada, a menina foi ver um “preto velho” que lhe ensinou a força do ritmo africano e um pouco de sua história ancestral. Ele, no entanto, também carismático poeta, quiz experimentar o prazer da virgem com sua pele clara, suas dúvidas na imensidão do mundo. A moça fugiu da tentativa de coito, e descobriu que os homens, mesmo aparentando maduros e sábios, são tão meninos e travessos como os garotos que encostavam a criança de dois anos na parede para brincar de médico. Viu os homens falhos, sem a dimensão do outro, e sem pensar nas consequências dos seus atos.
Ainda assim, o sorridente poeta lhe entregou uma mensagem, que falava que ela nasceu do fogo, e que, portanto, se expandia com o vento.
Uma década depois, já não mais a adolescente virgem, a jovem mulher vivia crises entre uma vida de sonhos, em palcos suntosos e príncipes a lhe mostrar os mundos de Gucci e Prada, que a ela interessavam menos do que apreciar a arquitetura dos lugares e sentir sua história, com uma dura realidade de sobrevivência que todos os dias lhe mostravam ser ela representante de uma existência precária, abusada em sua inocência, separada de tudo que sabia e poderia realizar para si.
O dia estava claro em Londres, a comunicação com o ser amado era difícil. A ternura dos lençóis nem sempre estavam presente nos dias corridos. Ela ia se esconder no buraco do metrô com a cabeça atormentada, quando viu um parque. Estes parques pequenos dentro da cidade, com suas grades antigas e portões escancarados. Era uma maneira de estar próxima a natureza. Cortar o caminho pelo parque era uma fuga da escuridão que tomava conta da sua cabeça. Ao pisar no parque lhe aconteceu algo raro: de um momento para o outro iniciou uma ventania que a fazia andar com dificuldade. Ela era magrinha e agradecia por ter aquele corpo de ninfa, de uma menina que pouco muda com o tempo.
O vento forte tirou toda a escuridão do seu corpo, baniu para longe as incertezas e, poucos metros depois, quando pisou pra fora do parque, a ventania parou.
Ela que até aquele momento só havia conectado com a água, fazendo canções para a sereia enquanto nadava na piscina ou no mar, descobriu novas forças e motivações, algo que lhe deu um senso de proteção com a natureza terrena.
Outra década depois, juntou as partes dessa história e compôs esta canção que se chama “Yansan”.
Uma das produções impecáveis do Stone Age Scanners ilustra perfeitamente todo o enredo e, depois de um debate com o diretor, finalmente a remixagem se manteve como um exercício de bases eletrônicas e voz, sem fins comerciais, e depois masterizado e (re) publicado no link abaixo. Uma nova versão acústica está também em estudo a algum tempo. Um dia ela se materializa, como o vento que mostra sua presença quando é forte, e a água que muda matérias e paisagens, mesmo não sendo possível segurá-la.