
Performance na rua em 8 de março de 1995. Foto de Leonardo Aversa, Publicada no Primeiro Caderno do Jornal do Brasil (pg. 4), em 9 de março de 1995.

Londres, 1999. Foto de Divulgação para Coleção Eureka.
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A performance é um manifesto do CORPO;
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o corpo quer TRANSGREDIR;
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o corpo quer manifestar sua liberdade, sem religião, sem família, sem MORAL, sem padrão, sem “bons costumes”;
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o corpo quer ser corpo, fora do corpo SOCIAL;
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o corpo quer EXPLODIR em potencialidade, para uma nova sociedade, em PROCESSOS de fragmentação;
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o corpo busca sua VERDADE, em um tempo de busca de novas verdades;
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o corpo quer ser seu indivíduo hóspede, como único proprietário nas DECISÕES sobre ele;
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o corpo quer ser LIVRE, até mesmo para mutilar-se, e, se isto agride o outro, o corpo NÃO SE EMOCIONA;
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o corpo quer autonomia das emoções mais básicas, para pesquisar uma nova ‘paleta’ de emoções e SENTIDOS;
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o corpo quer ter VOZ;
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a voz quer EXPANDIR o corpo;
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a voz quer se manifestar, e se AMPLIAR, através do seu corpo;
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a performance quer JUSTIÇA;
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a performance quer mostrar a DOR do que não quer ser ESQUECIDO, do que não deve ser calado;
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a performance se DESVIA da norma, da alegria polida, do sorriso amarelo;
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a performance não quer esquecer a HISTÓRIA;
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a performance quer contar, um OUTRO LADO, da história;
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a performance também quer mostrar, as CONSEQUÊNCIAS das lutas, as consequências dos LIMITES;
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a performance quer manifestar as consequências das GUERRAS e regras;
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a performance desafia as leis do poder, e suas lógicas, ilógicas;
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a performance chega num momento de MUTAÇÃO;
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a performance cresce na BUSCA do indivíduo por sua IDENTIDADE;
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a performance CONTESTA o MERCADO;
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o mercado veicula a PROPAGANDA da emoção artificial, articulada, previsível, enquanto a PERFORMANCE quer mostrar as VÍSCERAS das emoções DISCRIMINADAS e MARGINALIZADAS;
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para o mercado, não é bem vinda a memória, não é bem vindo falar do passado, não são bem vindas suas dores, vivem os seres mutilados nas falsas verdades, enquanto a performance quer mostrar a sua REALIDADE;
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o indivíduo PERFORMER espelha todos os INDIVÍDUOS, quando expõe seu corpo em algum tipo de AÇÃO;
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quanto mais “na borda”, ou “FORA DO LIMITE”, mais o performer irá causar REAÇÃO e irritação, e, em raras vezes, admiração;
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o performer não busca sentido positivo ou negativo no ARREBATAMENTO de sua EXPOSIÇÃO ao outro;
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o performer “joga as cartas na mesa”, e deixa que elas se embaralhem POR SI SÓ;
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a performance é um manifesto do conforto, no DESCONFORTO;
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a performance AFIRMA que, antes ser VISCERAL, do que SUFOCAR o SUFOCO;
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o performer chega aos limites do sufoco como trabalho de pesquisa;
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o performer não se ilude com o falso glamour do sucesso fabricado;
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o performer representa apenas a si mesmo, sendo, por isto, capaz de estar sempre representando seu OBSERVADOR;
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o corpo CRU é NU, não é ‘lingerie’, ‘maiô’ ou pijamas. não é ‘jeans’ nem ‘tennis’, o corpo nu é IGUALITÁRIO perante qualquer tipo de ‘status’;
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os corpos nus, em suas diferentes FORMAS, aproximam-se da NATUREZA em sua PUREZA de semelhança;
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o TABU sobre o corpo nu mostra como rejeitamos a sua natureza;
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performance é comunicação simbólica, é SEMIÓTICA;
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nem toda comunicação simbólica têm, ou precisa ter sentido claro, para todos;
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a performance pode, simplesmente, MANIFESTAR fruição de BELEZA;
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os meios da performance, para representar beleza não precisam ter sentido conceitual próprio, tampouco serem originais;
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o corpo, na performance, pode também ser como aquele quadro em branco, ou uma tinta esparramada, da sua cor de preferência;
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a performance é também manifesto do ARTISTA, em sua forma, busca e MOVIMENTO, por outros e novos caminhos de expressão;
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nestes processos de LEGITIMAÇÃO do corpo como MEIO, toda busca despretensiosa é LEGÍTIMA, todo “work-in-progress” é ‘master-piece’, todo anão é gigante, e vice-versa;
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a performance, não se apega a hierarquias, ela traz o artista para frente da tela e lhe enche de máculas, sem saltos-altos, ou pedestais, ela busca paridade, ela se desafia e se lança na utopia de igualdade;
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a performance não é obra de arte a ser contemplada, ela precisa ser vivida, como elemento físico de quarta dimensão;
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a performance pode ser documentada, mas nunca será registrada, ou capturada por nenhum meio, em sua totalidade;
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a performance nunca é igual, a performance é plural, e, o entendimento sobre a performance não se encaixa em padrões e teorias já conhecidas, por isto ela te desafia, o tempo todo, sendo assim, ainda mais incômoda;
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tempo, espaço, quarta dimensão, VIBRAÇÃO, expansão dos SENTIDOS, SOM;
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a performance traduz ENERGIA VITAL, como a comunicação GESTUAL e SUPREMA do corpo, revelando seus estados físicos, mentais, SENSORIAIS;
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o corpo, como meio de expressão, é material SEM FRONTEIRAS.