PERFORMANCE * MANIFESTA

Performance na rua em 8 de março de 1995. Foto de Leonardo Aversa, Publicada no Primeiro Caderno do Jornal do Brasil (pg. 4), em 9 de março de 1995.

 

 

 

 

london1999

Londres, 1999. Foto de Divulgação para Coleção Eureka.

  1. A performance é um manifesto do CORPO;

  2. o corpo quer TRANSGREDIR;

  3. o corpo quer manifestar sua liberdade, sem religião, sem família, sem MORAL, sem padrão, sem “bons costumes”;

  4. o corpo quer ser corpo, fora do corpo SOCIAL;

  5. o corpo quer EXPLODIR em potencialidade, para uma nova sociedade, em PROCESSOS de fragmentação;

  6. o corpo busca sua VERDADE, em um tempo de busca de novas verdades;

  7. o corpo quer ser seu indivíduo hóspede, como único proprietário nas DECISÕES sobre ele;

  8. o corpo quer ser LIVRE, até mesmo para mutilar-se, e, se isto agride o outro, o corpo NÃO SE EMOCIONA;

  9. o corpo quer autonomia das emoções mais básicas, para pesquisar uma nova ‘paleta’ de emoções e SENTIDOS;

  10. o corpo quer ter VOZ;

  11. a voz quer EXPANDIR o corpo;

  12. a voz quer se manifestar, e se AMPLIAR, através do seu corpo;

  13. a performance quer JUSTIÇA;

  14. a performance quer mostrar a DOR do que não quer ser ESQUECIDO, do que não deve ser calado;

  15. a performance se DESVIA da norma, da alegria polida, do sorriso amarelo;

  16. a performance não quer esquecer a HISTÓRIA;

  17. a performance quer contar, um OUTRO LADO, da história;

  18. a performance também quer mostrar, as CONSEQUÊNCIAS das lutas, as consequências dos LIMITES;

  19. a performance quer manifestar as consequências das GUERRAS e regras;

  20. a performance desafia as leis do poder, e suas lógicas, ilógicas;

  21. a performance chega num momento de MUTAÇÃO;

  22. a performance cresce na BUSCA do indivíduo por sua IDENTIDADE;

  23. a performance CONTESTA o MERCADO;

  24. o mercado veicula a PROPAGANDA da emoção artificial, articulada, previsível, enquanto a PERFORMANCE quer mostrar as VÍSCERAS das emoções DISCRIMINADAS e MARGINALIZADAS;

  25. para o mercado, não é bem vinda a memória, não é bem vindo falar do passado, não são bem vindas suas dores, vivem os seres mutilados nas falsas verdades, enquanto a performance quer mostrar a sua REALIDADE;

  26. o indivíduo PERFORMER espelha todos os INDIVÍDUOS, quando expõe seu corpo em algum tipo de AÇÃO;

  27. quanto mais “na borda”, ou “FORA DO LIMITE”, mais o performer irá causar REAÇÃO e irritação, e, em raras vezes, admiração;

  28. o performer não busca sentido positivo ou negativo no ARREBATAMENTO de sua EXPOSIÇÃO ao outro;

  29. o performer “joga as cartas na mesa”, e deixa que elas se embaralhem POR SI SÓ;

  30. a performance é um manifesto do conforto, no DESCONFORTO;

  31. a performance AFIRMA que, antes ser VISCERAL, do que SUFOCAR o SUFOCO;

  32. o performer chega aos limites do sufoco como trabalho de pesquisa;

  33. o performer não se ilude com o falso glamour do sucesso fabricado;

  34. o performer representa apenas a si mesmo, sendo, por isto, capaz de estar sempre representando seu OBSERVADOR;

  35. o corpo CRU é NU, não é ‘lingerie’, ‘maiô’ ou pijamas. não é ‘jeans’ nem ‘tennis’, o corpo nu é IGUALITÁRIO perante qualquer tipo de ‘status’;

  36. os corpos nus, em suas diferentes FORMAS, aproximam-se da NATUREZA em sua PUREZA de semelhança;

  37. o TABU sobre o corpo nu mostra como rejeitamos a sua natureza;

  38. performance é comunicação simbólica, é SEMIÓTICA;

  39. nem toda comunicação simbólica têm, ou precisa ter sentido claro, para todos;

  40. a performance pode, simplesmente, MANIFESTAR fruição de BELEZA;

  41. os meios da performance, para representar beleza não precisam ter sentido conceitual próprio, tampouco serem originais;

  42. o corpo, na performance, pode também ser como aquele quadro em branco, ou uma tinta esparramada, da sua cor de preferência;

  43. a performance é também manifesto do ARTISTA, em sua forma, busca e MOVIMENTO, por outros e novos caminhos de expressão;

  44. nestes processos de LEGITIMAÇÃO do corpo como MEIO, toda busca despretensiosa é LEGÍTIMA, todo “work-in-progress” é ‘master-piece’, todo anão é gigante, e vice-versa;

  45. a performance, não se apega a hierarquias, ela traz o artista para frente da tela e lhe enche de máculas, sem saltos-altos, ou pedestais, ela busca paridade, ela se desafia e se lança na utopia de igualdade;

  46. a performance não é obra de arte a ser contemplada, ela precisa ser vivida, como elemento físico de quarta dimensão;

  47. a performance pode ser documentada, mas nunca será registrada, ou capturada por nenhum meio, em sua totalidade;

  48. a performance nunca é igual, a performance é plural, e, o entendimento sobre a performance não se encaixa em padrões e teorias já conhecidas, por isto ela te desafia, o tempo todo, sendo assim, ainda mais incômoda;

  49. tempo, espaço, quarta dimensão, VIBRAÇÃO, expansão dos SENTIDOS, SOM;

  50. a performance traduz ENERGIA VITAL, como a comunicação GESTUAL e SUPREMA do corpo, revelando seus estados físicos, mentais, SENSORIAIS;

  51. o corpo, como meio de expressão, é material SEM FRONTEIRAS.

 

foto grito

Foto Performance, 2003. Elen Nas, Caetano Pimentel.

 

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